No início do mês, nós celebramos o 8M, o Dia Internacional da Mulher, uma data importantíssima para falarmos sobre a luta das mulheres pela igualdade de gênero, conquistada na lei, mas não na prática.
Da mesma forma, sabemos que os negros também estão longe de alcançar equidade social, ainda que ela exista na teoria. Por isso, hoje, 21 de março, é Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, uma data para falarmos sobre a necessidade de assumirmos, de verdade, um posicionamento antirracista.
Mulheres e negros são dois segmentos sociais que ainda precisam lutar muito parta terem seus direitos validados. E na sua interseção estão as mulheres negras, o grupo mais prejudicado por uma estrutura social machista, racista e discriminatória.
Vamos entender isso melhor?
Racismo não é preconceito
O primeiro ponto que precisamos deixar claro é o fato de que racismo não é preconceito.
Ficou confuso? Calma que a gente te explica.
O preconceito é uma forma de julgamento de alguém com base em estereótipos e ideias equivocadas e ultrapassadas.
Todas as pessoas podem ser vítimas de algum tipo de preconceito, seja por terem uma determinada origem social ou alguma característica física; seja por sua formação acadêmica ou pelos seus gostos pessoais.
Já o racismo é mais complexo e infinitamente mais violento. Trata-se de uma discriminação sistemática, constante e persistente, que faz com que um determinado grupo social seja excluído e não tenha os seus direitos respeitados. Ele é construído sobre uma forma mais profunda de preconceito em que as pessoas acreditam que a humanidade pode ser dividida em raças e que uma é superior à outra.
O racismo só consegue se estabelecer quando já há um preconceito extremamente enraizado, até “naturalizado”, ao ponto de já não ser mais percebido com tanta clareza.
Racismo e mercado de trabalho
No final do ano passado, a Agência Brasil divulgou uma pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que mostra os impactos da discriminação racial no mercado de trabalho:
- Mulheres negras têm a maior taxa de desocupação: 13,9%, contra 8,9% (mulheres não negras); 8,7% (homens negros); e 6,1% (homens não negros).
- Mulheres negras têm a menor taxa de formalização dos contratos de trabalho: 31,5% contra 37,1% (homens negros); 36,8% (mulheres não negras); e 39,6% (homens não negros)
- Mulheres negras têm a menor média salarial: R$ 1.715, contra 2.774 (mulher não negra); R$ 2.142 (homem negro); e R$ 3.708 (homem não negro)
Além disso, estima-se que apenas 3% das lideranças são ocupadas por mulheres negras.
Como podemos ver, a realidade da mulher negra no mercado de trabalho é extremamente preocupante - e precisa ser mudada!
Estatuto da Igualdade Racial
Cerca de 56% da população do nosso país é formada por negros e pardos. Isso significa que, mais da metade do Brasil vive em desigualdade de acesso a bens e serviços, bem como em desigualdade de oportunidades.
E essa é uma realidade que precisa ser mudada!
Diante dessa necessidade, em 2010, foi criado o Estatuto da Igualdade Racial, que busca “garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”.
A leitura integral do texto nos mostra que, para além de reafirmar a igualdade de direitos, o Estatuto destaca a urgência da criação de políticas públicas que promovam a verdadeira equidade entre todos os grupos sociais.
Isso significa que palavras não são suficientes. É necessário partir para a ação!
A participação das empresas privadas
Nós acreditamos que é preciso repensar o hoje para reescrever a história e construir um novo amanhã. Isso é Refuturizar!
Um mundo mais justo e sustentável se constrói a partir de uma sociedade plenamente desenvolvida; e uma sociedade plenamente desenvolvida é fruto da igualdade de direitos e de acesso.
Por isso, se queremos que haja, de fato, uma mudança na nossa sociedade para que as mulheres negras alcancem melhores oportunidades, não basta que o governo cumpra o seu papel. É necessário que a iniciativa privada também abrace esta causa e se comprometa a mudar a nossa realidade.
É necessário abrir espaço para que elas entrem nas empresas e ocupem cargos que hoje são, majoritariamente, de pessoas brancas. E isso traz vantagens também para a empresa, uma vez que a diversidade é fundamental para a prosperidade dos negócios.
E você? O que pode fazer para ajudar a mudar a realidade?
Pense. Repense. Reescreva. Refuturize!