Xenofobia.
Você certamente já ouviu essa palavra. Ela está nos jornais, nos artigos e mesmo nas redes sociais, em depoimentos de vítimas desse preconceito. Mas você sabe o que realmente é a xenofobia?
A palavra tem origem grega: xeno, que significa estrangeiro, e phobia, que quer dizer medo, aversão. Assim, ela traduz o preconceito que as sociedades manifestam com aqueles que vêm de fora.
A xenofobia na Antiguidade
É lugar comum dizer que a Grécia é o berço da democracia, mas o que poucas pessoas sabem é que esse sistema político era válido para uma minoria.
Apenas os homens adultos e nativos participavam da vida pública. Mulheres e crianças eram submissas à vontade do primeiro grupo e (grande parte dos) estrangeiros eram escravizados.
A rejeição aos povos “de fora” também fez parte da sociedade latina, que deu a eles o nome de “bárbaros”. Essa palavra, que compõe o nosso vocabulário até os dias de hoje, ganhou um significado positivo, remetendo a algo que é muito legal ou interessante. No entanto, o termo, em sua origem, significa “aquele que é selvagem, valente, feroz”. Ou seja, para eles, todos os que não compartilhavam da sua cultura eram vistos como inferiores ou “não civilizados”.
Etnocentrismo
Falando em cultura, vamos a uma definição bem interessante dela:
“... a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo” - Roque Laraia
Nós, enquanto seres sociais, temos o nosso crescimento e desenvolvimento baseado em um processo de socialização. Isso significa que somos apresentados ao mundo a partir de uma determinada ótica, ou seja, a partir da cultura da sociedade em que estamos inseridos. Assim, tal como afirma o antropólogo brasileiro Roque Laraia, a cultura é uma espécie de lente através da qual enxergamos o mundo.
Sociedades diferentes vêem o mundo de maneira diferente e é natural que isso provoque um estranhamento. Esse choque entre cultura é o que dá origem ao etnocentrismo:
Etno - éthnos (raça, povo) + centrismo (no centro de) = julgar a cultura do outro a partir de seus próprios valores.
Vamos entender isso na prática: você já viu ou ouviu falar nas “mulheres-girafa” da Tailândia? Ou no “haka” , dança típica do povo maori?
Olhar para esses rituais e tradições pode nos causar desconforto, estranhamento ou mesmo provocar críticas acerca desses povos e comportamentos. E pasme: isso é natural.
Tudo aquilo que foge ao que conhecemos nos provoca um certo incômodo. É como se perdêssemos, por alguns instantes, a segurança por ver algo que sai da nossa lógica de mundo. E é por isso que devemos sempre buscar entender a lógica do outro - que, vamos combinar, também deve nos achar muito diferente, né?
O etnocentrismo acontece quando acreditamos que a nossa cultura é melhor que a do outro, que nós somos melhores do que os outros. Nesses casos, o estranhamento ganha outros contornos e passa a se tornar justificativa para a prática de atrocidades.
Quem não se lembra do argumento europeia para escravizar africanos. Por terem a pele escura, eram vistos como animais, como não humanos, o que lhes tirava a humanidade. Os europeus se consideravam superiores e por isso se achavam no direito de praticar tamanha crueldade.
A essa altura, você já deve ter percebido que xenofobia e etnocentrismo andam de mãos dadas…
Vamos ver a definição de xenofobia do Alto Comissionado das Nações Unidas para Refugiados:
“Atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e frequentemente difamam pessoas, com base na percepção de que eles são estranhos ou estrangeiros à comunidade, sociedade ou identidade nacional”
Xenofobia no Brasil
Como sabemos, nosso país é marcado pela imigração.
Além dos portugueses, que nos colonizaram, muitos outros povos ajudaram a costurar a trama da nossa história. É por isso que nos sabemos miscigenados.
Ainda assim, o Brasil é palco de opiniões e práticas xenofóbicas - o que pode parecer muito contraditório…
Mas vamos pensar juntos:
Nós fomos colonizados pelos portugueses, ou seja, um povo europeu. E tal como falamos anteriormente, foi com base no racismo e na visão de superioridade que eles escravizaram pessoas negras retiradas do continente africano.
Na colonização, passamos por um processo de aculturação, em que a cultura do povo opressor se sobrepõe à cultura do oprimido. Assim, vão se assumindo como valores próprios aqueles que advém da cultura do colonizador. No nosso caso, o racismo e outras formas de preconceito vieram nesse “pacote”.
Assim, a xenofobia no Brasil tem um recorte bem específico.
Nunca vimos protestos contra a Oktoberfest, festa típica da colônia alemã no sul do Brasil. Ou mesmo ataques à comunidade japonesa em São Paulo. Do contrário, as manifestações de ódio aos haitianos e venezuelanos que aqui chegam em busca de uma vida melhor, a depredação de templos de religiões de matriz africana e o preconceito contra muçulmanos fazem parte do nosso dia a dia.
O que percebemos com isso?
Que a xenofobia não é uma prática isolada; ela é fomentada por outras formas de preconceito.
Assim, não apenas estrangeiros são alvos dela.
Igualmente baseado na ideia de superioridade, brasileiros do eixo Rio-São Paulo, do sudeste como um todo e, principalmente, do sul do país, adotam uma postura intolerante em relação ao norte e nordeste do Brasil. Mais uma vez, podemos perceber o recorte racial, uma vez que é nessas duas regiões se concentram a maior parte de não-brancos da nossa população.
Não esqueça: xenofobia é crime
Desde 1989, o Brasil entende que práticas xenofóbicas são criminosas. Diz a Lei nº 7.716 em seu artigo 1º:
“serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”
As denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, que aceita também outras queixas ligadas à violação dos direitos humanos.
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